
Turismo (outra vez)
Eu não sou turismólogo, mas sei que um dos conceitos mais errados sobre o turismo é o de que ele depende das riquezas naturais de um lugar. Nada disso: turismo se cria, simples assim. Já escrevi sobre o tema aqui há quatro anos e volto a ele agora, novamente motivado por uma visita à Serra Gaúcha.
Gramado é uma cidade que se renova a cada dia. Sempre que volto lá, há uma atração nova. Há muitos recantos de inverno no Brasil, como Campos do Jordão, Monte Verde ou Petrópolis, só que nenhum é igual a Gramado. Por quê? Porque a cidade gaúcha sabe que contar somente com o frio, ainda mais sendo um lugar distante dos grandes centros, é uma má ideia do ponto de vista econômico. Por isso, eles foram criando museus, parques de todos os tipos, festivais de verão e por aí vai. Hoje, o principal destino de inverno brasileiro recebe mais turistas em dezembro do que em julho. Como? Criando turismo. E as cidades da região, aos poucos, vão aprendendo. Bento Gonçalves se especializou no turismo do vinho. Canela, cidade gêmea a Gramado, vai investindo em atividades ligadas à natureza. Nova Petrópolis, a 30 quilômetros de lá, estava com um festival bacana de danças folclóricas neste final de semana, quando a visitei. Além disso, investiu em um belo parque dentro da cidade e, na praça principal, criou algo tão simples quanto fabuloso: um labirinto verde, feito de plantas, no qual você vai caminhando até encontrar o centro dele. Bobo? É uma das atrações turísticas mais apreciadas da cidade. Imagino que seja possível fazer algo semelhante com menos de R$ 30 mil. Isso é turismo: é fazer de um poste, um túmulo ou uma árvore um ponto de visitação. Como? Há mil maneiras, pode acreditar. Basta criatividade.
Minha Uberlândia até que atrai uma quantidade razoável de turistas, mas mais voltados para os negócios. Daria para fazer muito mais: roteiros gastronômicos, circuitos por locais históricos (sim, eles existem, só que a história de cada um não é explorada), circuito pelas cachoeiras, estímulo ao turismo rural e por aí vai. Tudo isso e mais algumas criações inteligentes, como a ideia que Nova Petrópolis teve com o labirinto verde. Mas, parece-me que faltam cabeças pensantes, que falta inteligência e vontade real de fazer o turismo acontecer na cidade. Quem acompanha a agenda cultural de Uberlândia percebeu que ela está um pouco mais rica, com o esforço de gente como o Carlos Guimarães Coelho, que tem batalhado para termos teatro de qualidade com uma boa frequência. Já o turismo não me parece ter gente assim por aqui. Se tem, não tenho visto o trabalho. Uma pena. O turismo já é e tende a ser cada vez mais uma importantíssima fonte de renda para qualquer cidade do mundo.
Alexandre Henry