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A coluna "Modo de Ver" foi publicada semanalmente no jornal Correio de Uberlândia de janeiro de 1996 a dezembro de 2016. A partir de 2017, os textos passaram a ser publicados no Diário do Comércio de Uberlândia.


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28 de Setembro de 2016 Alexandre Henry

O polemista

Polêmica, pela definição do dicionário, é uma "discussão em torno de questão que suscita muitas divergências". Polemista, por sua vez, é quem trava polêmicas. Feita essa pequena introdução, vamos ao que interessa.

Escrevo neste CORREIO semanalmente há quase 21 anos. Se tem algo que eu sempre evitei foi conquistar leitores com base exclusivamente na criação de polêmicas. Claro, não fujo delas, até porque uma coluna opinativa ficaria totalmente insossa se tratasse apenas de temas incontroversos. Só que não faço das querelas o eixo principal da minha escrita. Infelizmente, porém, ao menos para mim, é cada vez maior o número de escritores, jornalistas, artistas etc.  que tomam a criação de polêmicas como estratégia de marketing, a qual se sobrepõe a qualquer outra coisa que envolva a própria obra. Deixei de ler muito "pensador" porque tudo o que conseguia ver em seus textos era a ânsia de ganhar publicidade com base na polêmica. O principal caminho para isso sempre foi ser "do contra" ou assumir posições radicais, podendo ocorrer as duas situações ao mesmo tempo. No primeiro caso, a explicação está na chamada "síndrome da carne de vaca", um mal que atinge uma parte considerável da população. Trata-se da rejeição a tudo aquilo que se torna popular e/ou que alcança a aprovação da maioria. Para uns, isso é a morte. Enquanto o artista está o underground e é quase um desconhecido, ele é um gênio. Se a grande massa o consome, torna-se uma porcaria. O mesmo acontece com as ideias: para parte da população, especialmente a pseudointelectualidade, uma ideia pouco conhecida ou, ainda que popular, mas aceita por poucos, é uma ideia boa. Mas, se quase todo mundo concordar com ela, então já não vale nada. Como eu disse, tem também o polemista do tipo radical, que envereda pela defesa de pensamentos que não encontram e nunca encontrarão apoio da grande massa, porque quase sempre são ideias e ideais absurdos e inconsequentes. De toda forma, defender algo assim é garantia de sair do anonimato e encontrar um público pequeno, mas fiel e apaixonado.

Ocorre que ter a polêmica como caminho para a fama desfaz o conteúdo da mensagem, seja ela de que natureza for. Às ideias, sobrepõe-se o desejo dominante de causar controvérsia, empobrecendo o debate e a obra. O polemista não quer ter razão, ele quer ter plateia. Ele não deseja descobrir a verdade, deseja acender os holofotes. O conteúdo de sua produção pouco interessa em si, desde que cause polêmica e chame bastante a atenção. Só que isso, para mim, não serve nem para me guiar nos meus textos e nem para o meu consumo. Gosto daquilo que me parece lógico e coerente, causando ou não polêmica, sendo aceito ou não pela grande massa.

Alexandre Henry

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