
O fim de uma rotina e de um sonho
Quando o telefone tocou e era do Correio de Uberlândia, eu já achei estranho, pois tinha mandado a minha coluna com antecedência. Ao ficar sabendo que o motivo da ligação era o convite para uma reunião muito importante no dia seguinte, com todos os colaboradores externos do jornal, eu comecei a imaginar o pior. Como você já deve estar sabendo, realmente era o pior: o jornal vai encerrar as suas atividades no último dia deste ano.
Para mim, vai ser muito difícil. Não falo da parte financeira, pois nunca recebi qualquer pagamento pelos textos que publico aqui. Como acordado desde o começo, eu escreveria de forma espontânea e não remunerada, um bom acordo para quem sempre gostou de escrever e conseguiu um espaço no maior jornal da região. O mais difícil para mim será a perda de uma rotina que já me acompanha há quase 21 anos. Foi em janeiro de 1996 que comecei escrever aqui. Toda semana, faça chuva ou faça sol, estando trabalhando ou de férias, no Brasil ou do outro lado do mundo, eu tenho a rotina de escrever a minha coluna para o Correio de Uberlândia. E não é apenas isso: tem todo um ritual de ir pensando, ao longo da semana, em assuntos para meus textos. Como dizia antiga canção, eu trabalho em cartório, mas sou escritor. Agora, porém, uma parte essencial do que gosto deixará de existir. Tudo bem que eu posso continuar publicando meus textos em outro lugar, especialmente na internet. Mas, definitivamente, não é a mesma coisa.
Em relação ao fim do jornal em si, era algo que eu já imaginava, pois a maioria dos meios de comunicação impressos está em crise por conta da internet. Não adianta pensar que é só transferir o trabalho de um jornal do papel para a tela de um computador que tudo estará resolvido. Não é assim que funciona. As pessoas se acostumaram a consumir conteúdo na internet sem pagar nada por isso. A maioria dos serviços é remunerada indiretamente por meio de publicidade. Acontece que poucas empresas dominam praticamente todo o mercado de publicidade da rede, pouco sobrando para as demais. Google e Facebook são os maiores exemplos. Especialmente no caso do Facebook, trata-se de uma empresa inteligente que não produz conteúdo próprio, vivendo do conteúdo dos usuários e de outras fontes, mas concentrando quase toda a arrecadação publicitária da rede para si. É muito difícil para um jornal sobreviver a essa nova realidade, especialmente do interior do Brasil.
É isso. O tempo passou e o meu sonho de estar bem velhinho, daqui a muitas décadas, e ainda escrevendo no Correio, não mais vai se realizar. Vou ter que rever a minha rotina semanal. A minha vida seguirá seu caminho, mas é impossível negar que ficará um pouco mais chata sem este espaço para eu me expressar.
Alexandre Henry