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A coluna "Modo de Ver" foi publicada semanalmente no jornal Correio de Uberlândia de janeiro de 1996 a dezembro de 2016. A partir de 2017, os textos passaram a ser publicados no Diário do Comércio de Uberlândia.


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10 de Agosto de 2016 Alexandre Henry

Nós e o Estado

Escrevi este texto quando o Brasil tinha duas medalhas na Olimpíada: uma no tiro esportivo e outra no judô. O que me chamou a atenção foi que as duas conquistas partiram de membros das Forças Armadas brasileiras. Vi muita gente da direita orgulhosa desse fato, como se jogasse na cara da esquerda que, sim, os militares representam uma classe que dá certo e faz acontecer.

Engraçado, porque o que me veio à mente foi algo diferente: a eterna dependência que os brasileiros possuem em relação ao estado, algo que a direita, volta e meia, insinua combater, mas que não passa de encenação para disfarçar uma dependência em relação ao mesmo estado, só que em situações um pouco diferentes (proteção à indústria nacional, subsídios dos mais variados tipos etc.). Bom, mas deixemos essa discussão para outra hora e fiquemos com o fato de que um terço dos nossos atletas olímpicos pertence às Forças Armadas. Como isso aconteceu? De forma inteligente, o Ministério da Defesa criou em 2008 o "Programa Atletas de Alto Rendimento". Por meio dele, os atletas com bom desempenho saem na frente nos concursos para a carreira militar e, uma vez incorporados aos quadros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, "os atletas têm à disposição todos os benefícios da carreira, como soldo, 13º salário, plano de saúde, férias, direito à assistência médica, incluindo nutricionista e fisioterapeuta, além de disporem de todas as instalações esportivas militares adequadas para treinamento", como informa o próprio site do Programa. Uma ideia fenomenal, já que as Forças Armadas atraem para si cidadãos que são exemplos para ajudar na moral interna, pois atletas olímpicos de alto rendimento geralmente são esforçados, determinados e guerreiros. De quebra, os militares obtêm um retorno de imagem inestimável, como se vê nas inúmeras postagens exaltando o fato dos medalhistas serem militares. Por tudo isso, tiro o meu chapéu para as Forças Armadas e para quem teve essa brilhante ideia.

Porém, tal realidade me deixa triste. É o que eu disse no começo: continuamos necessitando do estado. Por que os donos de universidades particulares não investem em atletas olímpicos como acontece nas instituições americanas? Por que os empresários brasileiros não possuem bons programas de treinamento de atletas, visando a um retorno de imagem como os militares têm conseguido? Isso, sim, seria ainda melhor para o país. Enfim, é nessas horas que eu vejo as incoerências dos posicionamentos políticos dos brasileiros. Neste caso particular que tratei, a turma da direita joga na cara dos esquerdistas o bom papel das Forças Armadas, sem se dar conta de que estão fazendo propaganda por uma maior participação do estado na vida do cidadão, algo que dizem combater.

Alexandre Henry

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