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A coluna "Modo de Ver" foi publicada semanalmente no jornal Correio de Uberlândia de janeiro de 1996 a dezembro de 2016. A partir de 2017, os textos passaram a ser publicados no Diário do Comércio de Uberlândia.


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17 de Agosto de 2016 Alexandre Henry

Falta garimpar talentos

Ainda falando sobre Olimpíadas, a pergunta que fica é: como o Brasil, estando entre os dez países mais populosos e de maior PIB do mundo, não consegue a mesma colocação no quadro geral de medalhas? A resposta óbvia é culpar a falta de investimentos, mas isso só não explica o problema. Tão importante quanto o valor gasto é a forma como ele é gasto. Aliás, mais do que isso: como o país trata o esporte de uma forma geral.

Historicamente, temos algum destaque em esportes coletivos, como o vôlei, o futebol e o basquete. Individualmente, não seguimos o mesmo caminho. Ocorre que o esforço de onze jogadoras de futebol (fora as reservas) pode render apenas uma medalha. Já em alguns esportes, como a natação, um único atleta de ponta pode participar de várias competições e, sozinho, tem chance de ganhar várias provas. Alguns países já perceberam isso e concentraram seus investimentos em esportes que distribuem muitos pódios. Britânicos são bons em ciclismo, japoneses arrebentam no judô e jamaicanos detonam nas provas de atletismo de velocidade. No Brasil, como dito, costumamos ficar apenas com os esportes coletivos que geram poucas medalhas.

Temos ainda outro problema. Apesar de sermos mais de 200 milhões de habitantes, milhares de brasileiros que poderiam ser grandes velocistas, ciclistas, nadadores etc. nunca têm a menor noção do próprio potencial, pois não têm contato com esportes olímpicos. O ponto central é o sistema educacional: nossas escolas não possuem uma boa estrutura esportiva e, quase sempre, o que se vê é apenas uma quadra de futebol ou de vôlei. Em povoados ribeirinhos da Amazônia, junto a escolas rurais, eu vi redes de vôlei e traves de futebol. Mas, em raras escolas de grandes centros urbanos você vê uma pista de atletismo, uma piscina ou aparelhos de ginástica. Como vamos descobrir um campeão dos 100 metros rasos se nossas crianças nunca foram testadas em suas aptidões?

Enfim, o que nós temos hoje é um país com mais de duas centenas de milhões de habitantes, mas cuja população que tem uma chance de ter testada sua capacidade esportiva olímpica é menor do que a de pequenos países mundo afora. É como se o país inteiro fosse uma grande jazida de ouro, mas garimpássemos apenas uma área equivalente a Sergipe, nosso menor estado. Se aplicássemos aos esportes olímpicos a estrutura de testes do futebol, com escolinhas e peneiras em todo o país, descobriríamos muitos campeões. Potencial para estar entre os dez melhores, nós temos. Mas, esse potencial só vai desabrochar no dia em que, mais do que investimento em atletas profissionais, tivermos investimento na busca por novos talentos entre as crianças e adolescentes.

Alexandre Henry

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