
Dizendo o que aprendi
“E na vida a gente tem que entender que um nasce pra sofrer, enquanto o outro ri” – já cantava Tim Maia. Não, não estou falando de economia, luta de classes ou coisa que o valha. Estou falando do amor mesmo, esse assunto “besta” que, em meio a tanta disputa partidária e ideológica, acabou sendo deixado de lado, como se fosse algo de menos importância.
Já me peguei pensando algumas vezes nessa frase. Será mesmo que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri? Quem já tomou um pé no traseiro e teve o coração destroçado tem certeza que sim. Aliás, quem nunca levou um fora, né? Então, a questão é que a gente só se lembra de quando foi vítima, nunca de quando foi o algoz.
Quer dizer, às vezes se lembra de quando foi o dono do pé e não o dono do traseiro, mas isso só acontece quando foi algo muito traumático para ambos. Na maioria dos casos, o que a gente faz é se lamentar, ainda que silenciosamente, que não teve sorte na vida afetiva por ter sido desprezado por alguém, por não ter recebido todo o amor que tinha para dar àquela pessoa.
Aí, sai cantando Tim Maia sem perceber, achando sempre que foi o escolhido para nascer para sofrer. Mas, cá eu com minhas reflexões tão úteis quanto discutir esquerda e direita política na atualidade, o fato é que não cheguei a conhecer nenhum ser humano que só tenha sido vítima nos assuntos do coração, sem nunca ter assumido o outro lado.
Procurando bem, futricando na vida de cada um lá no fundo, sempre vai haver uma pessoa que por você foi desprezada, ainda que de forma inconsciente ou, como costuma acontecer na maioria dos casos, de forma consciente, mas sem se dar conta do tamanho do amor que havia do outro lado.
Assim, a gente segue a vida sem perceber o estrago que fez no coração de um ser humanozinho lá na sala de aula do ensino básico, na festinha da pré-adolescência, nos bancos da faculdade ou mesmo nas divisórias do local de trabalho.
Corações arrasados que vamos deixando pelo caminho sem perceber ou sem dar a mínima importância. Algumas pessoas, mais providas de charme ou beleza, geram mais lágrimas do que as outras, mas o fato é que todo mundo foi o algoz algum dia.
Aí você me pergunta: e daí? Aonde você quer chegar com esse papo esquisito? Ora, eu quero chegar no final da canção: “Mas quem sofre sempre tem que procurar, pelo menos vir achar, razão para viver. Ver na vida algum motivo pra sonhar, ter um sonho todo azul, azul da cor do mar”.
Por quê? Porque você não foi, não é e nunca vai ser o único a ter o coração partido. Não existe essa coisa de que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri: todo mundo ri, todo mundo chora e qualquer um já fez alguém sofrer. Enfim, deixe essa autocomiseração de lado e vá ser feliz.
Alexandre Henry - Escritor