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A coluna "Modo de Ver" foi publicada semanalmente no jornal Correio de Uberlândia de janeiro de 1996 a dezembro de 2016. A partir de 2017, os textos passaram a ser publicados no Diário do Comércio de Uberlândia.


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23 de Novembro de 2016 Alexandre Henry

Dinheiro vivo

Como cidadão, sempre fico com um pé atrás com quem guarda ou utiliza quantias razoáveis de dinheiro vivo, abdicando da segurança das transações bancárias. Fico me perguntando: em um país violento, o que leva uma pessoa a usar dinheiro em espécie em grande quantidade, quando é muito mais prático e seguro utilizar outros instrumentos financeiros?

Escrevi sobre o tema em uma rede social e recebi críticas pela generalização que fiz em meu texto, ainda que tenha ressalvado lá que há, sim, pessoas normais e honestas que usam apenas dinheiro vivo em suas transações. Disseram-me que tem gente que faz isso por não confiar no sistema bancário, outros por achar que os bancos não produzem nada e pagam juros mínimos, alguns para evitar as altas tarifas. Pode até ser, mas ainda acho tais explicações fracas diante dos índices de criminalidade no Brasil.

Veja bem: não estou falando do velhinho que saca o salário mínimo de aposentadoria e vai pagando suas despesas em dinheiro. Não falo do trabalhador braçal que recebe seu pequeno salário em moeda viva toda semana. Também entendo que há pequenos comerciantes e construtores que, por receber dos clientes ou pagar funcionários em dinheiro, acabam tendo uma quantia razoável em espécie. Mas, e quem não tem uma razão específica para fugir do sistema bancário? Qual a razão de ter R$ 200 mil em casa? Por que comprar um carro em moeda viva? Em meu criticado comentário, escrevi: "Em um país violento como o Brasil, quem guarda em casa dinheiro vivo acima de algumas centenas de reais, ou com ele paga suas compras de tais montantes, geralmente é alguém em quem pouco se pode confiar: ou é traficante, ou é corrupto ou maluco da cabeça. Gente honesta e em suas plenas faculdades mentais geralmente usa cartão ou transações bancárias para suas atividades financeiras no Brasil. Existem exceções, é claro. Mas, são poucas". Mantenho o que disse. Pela minha experiência como juiz cível e criminal há uma década, se o sujeito guarda ou usa grandes quantias em dinheiro vivo, está querendo esconder seu patrimônio de credores ou dos órgãos de combate à criminalidade. Bancos, por mais criticáveis que possam ser, pagam juros e se responsabilizam pelo seu dinheiro. A chance de alguém perder R$ 1 milhão no banco é infinitamente menor do que a chance de ser assaltado.

Ter dinheiro em casa ou pagar suas contas com ele, seja em que quantia for, não é crime. Ao menos pelas leis atuais, ninguém pode ser condenado por isso. Porém, continuo achando um comportamento estranho nessa selva de criminalidade em que vivemos, exceto quando se trata de pequenas quantias ou quando há uma explicação plausível, como nas exceções que citei.

 

Alexandre Henry

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