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A coluna "Modo de Ver" foi publicada semanalmente no jornal Correio de Uberlândia de janeiro de 1996 a dezembro de 2016. A partir de 2017, os textos passaram a ser publicados no Diário do Comércio de Uberlândia.


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3 de Janeiro de 2016 Alexandre Henry

Conflitos internos sobre religião

Minha mãe, que faleceu quando eu tinha apenas sete anos, era extremamente católica e queria que todos os filhos seguissem na vida da igreja. Apesar disso, distanciei-me das missas e, quando comecei a namorar minha esposa, fui durante um ano a uma igreja evangélica com ela, até ir novamente a uma missa. Fiz a Primeira Comunhão e a Crisma juntas, já com quase 30 anos. Passei a ler a Bíblia com frequência e a ir às missas, algo que faço até hoje, mas continuo aqui com meus conflitos internos sobre o assunto.

O cerne de todas as religiões é bom, pois todas trazem, na essência, uma mensagem de paz e de harmonia entre os homens. Sangue derramado em nome da fé cristã ou muçulmana não me faz achar que a religião é um mal. As igrejas unem, trazem conforto aos corações, estimulam atos de caridade e amor. Além disso, por mais que a existência de uma divindade seja algo sem lógica, mais sem lógica é crer que o universo e a humanidade são obras do acaso. Por todas essas razões, lá vou eu abrir a Bíblia e ir à igreja com bastante frequência. O problema é que a religião - qualquer uma delas - passa seus ensinamentos por meio de histórias inverossímeis, contadas por falíveis líderes religiosos, tão humanos quanto eu e você. É nesse ponto que o caldo quase entorna. Que Adão e Eva são apenas metáforas, até cristãos convictos já aceitam. Mas, o que dizer de Abraão, figura central para três religiões? E Moisés, cuja magnífica narrativa no Antigo Testamento é uma das histórias mais lindas que já li, mas cuja vida parece ser apenas uma bonita lenda para passar uma mensagem? Até aqui, tudo bem. Mitos e lendas existem em qualquer cultura e representam uma forma valiosíssima de transmissão de conhecimentos e valores. Ocorre que a religião - qualquer uma delas - não aceita a ideia de que as histórias que ilustram suas mensagens não ocorreram do jeito que foram para os livros e, mais ainda, não aceitam que muitas delas nem ocorreram. Como continuar de ouvidos absolutamente abertos para as palavras de homens que acreditam que tudo aconteceu como está nos livros sagrados, se está claro que aquilo ali é, em grande maioria, apenas um enredo fictício para sábios ensinamentos?

É isso que me traz conflitos internos enormes, pois eu sei que a religião é algo bom, gosto de ir à igreja, gosto das histórias da Bíblia, acredito que realmente há um ente superior (e que Deus é um bom nome para esse ente), ao mesmo tempo em que me causa estranheza discutir, como se reais fossem, personagens e narrativas que são apenas molduras humanamente criadas para mensagens divinas. Se é assim, o melhor seria dispensar a intermediação de uma religião e manter uma fé direta com Deus, não? Pois é, mas continuo lendo a Bíblia e indo à igreja. É isso que eu não entendo.

Alexandre Henry

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