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A coluna "Modo de Ver" foi publicada semanalmente no jornal Correio de Uberlândia de janeiro de 1996 a dezembro de 2016. A partir de 2017, os textos passaram a ser publicados no Diário do Comércio de Uberlândia.


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24 de Junho de 2015 Alexandre Henry

Bata de frente, mas só de vez em quando

Tenho visto com muita frequência aquele tipo de pessoa que acha que o melhor jeito de enfrentar o mundo é bater de frente com quem aparece no caminho. Em muitos casos, a pessoa tem a sensação de que está sendo perseguida por tudo e por todos, podendo descambar para uma paranoia esquizofrênica. Como reação, tem gente que se esconde, mas tem gente que ataca. Claro, nem todo mundo assim cruzou a linha da sanidade mental. Aliás, acredito que a maioria desenvolva esse costume de bater de frente como um traço da personalidade mesmo, não como uma patologia.

Discussões de saúde à parte, o fato é que essas pessoas não costumam ter habilidade para aquela política de relacionamento que é tão comum e tão importante no dia a dia. Ao invés de tentarem resolver um problema por meio da conversa, dos acordos e até dos conchavos de bastidor, preferem partir para a pancadaria logo de uma vez. Quando falo em pancadaria, não me refiro especificamente a agressões físicas, pois só uma minoria toma esse caminho. O que a grande maioria faz, em tempos de internet, é se sentar atrás de um computador e começar a disparar e-mails, postagens em redes sociais e tudo mais, com textos agressivos que buscam afrontar quem impôs qualquer dificuldade em seu caminho. Alguns vão mais além e têm a mania de utilizar expedientes burocráticos e jurídicos para o ataque. A maioria, no entanto, fica só com os textos agressivos na internet mesmo, abrindo uma guerra verbal não só com quem está no mesmo nível, mas principalmente com quem tem uma posição superior nos campos profissional e social. A sensação que tenho é de que, batendo de frente com alguém mais poderoso, a pessoa acaba se sentindo no mesmo nível, sem perceber que, no final, vai sair ainda mais diminuída dessa briga.

Conheço algumas pessoas assim e, observando-as, percebo que a maioria delas não vai muito longe na vida, especialmente na esfera profissional. Viver é fazer política e bater de frente é um caminho a se tomar, mas de forma rara e meticulosamente escolhida. É preciso que os outros saibam da sua capacidade de ir para a guerra e, mais ainda, de vencer a guerra. Mas, muito mais do que isso, é preciso que os outros saibam da sua vontade maior de buscar uma solução pela via diversa do enfrentamento, pelo acomodamento de interesses recíprocos, pela conversa. Os grandes políticos sabem disso e usam essas técnicas como maneira de sobreviver e subir na vida. No fundo, não há nada de errado em fazer da vida um pequeno jogo político para ter seu próprio espaço, desde que essa política seja proativa e positiva. Afinal, o diálogo e os acordos sempre são melhores do que a violência, seja essa violência um soco na cara ou um e-mail com palavras agressivas.

Alexandre Henry

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