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A coluna "Modo de Ver" foi publicada semanalmente no jornal Correio de Uberlândia de janeiro de 1996 a dezembro de 2016. A partir de 2017, os textos passaram a ser publicados no Diário do Comércio de Uberlândia.


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26 de Agosto de 2015 Alexandre Henry

A profissão mais difícil

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo (24/08/2015), diariamente cerca de quatro policiais militares de SP recebem autorização para tratamento psiquiátrico. Essa informação se junta a inúmeras outras para deixar claro que poucas profissões são mais difíceis do que a de policial, ao menos em nosso país.

As realidades são distintas. A Polícia Federal, por exemplo, conta com um corpo de servidores relativamente bem remunerado, se comparado às demais polícias, além de ter mais estrutura, mais treinamento e um grande respeito por parte da população. Já as polícias civis dos vários estados, responsáveis pelas investigações criminais e pelo apoio direto ao Judiciário e ao Ministério Público, representam um dos grandes gargalos para a melhoria da segurança no Brasil: contam com poucos recursos, treinamento ruim ou inexistente, índice de corrupção elevado (embora a maioria dos policiais seja honesta, na minha percepção), sem contar o salário muito ruim. Definitivamente, não é fácil ser um investigador de polícia civil no nosso país, cujos métodos ainda estão na Idade Média se comparados aos de outras nações mais ricas.

Mas, a pior situação, na minha visão, é a dos policiais militares. São eles que dão a cara a tapa, que enfrentam manifestações, fazem o policiamento ostensivo e são chamados para os piores enfrentamentos. O PM está sujeito às situações mais estressantes e, na hora H, ainda tem que ter controle emocional para não fazer bobagem. Com essa proliferação das câmeras, algo bom, erros na execução do trabalho não ficam mais ocultos (e nunca deveriam ficar mesmo). O problema é que a probabilidade de erro é gigantesca, dado que, do outro lado, há um bandido que pode tirar a vida do policial. Tudo isso com baixa remuneração, respeito da população às vezes corroído pelo comportamento de alguns membros da corporação, treinamento insuficiente, equipamento inadequado e por aí adiante. Enfim, é um conjunto de problemas que tem o condão de deixar qualquer um louco. Com tanta deficiência de estrutura e salário, além de uma criminalidade absurda e uma pressão social gigantesca, continuar fazendo um bom trabalho sem erros, sem levar problemas para casa e sem surtar é quase como um milagre.

Não tenho nenhum familiar próximo ou amigo de convivência diária que seja policial militar. Até por isso, sinto-me ainda mais lúcido para enxergar a situação degradante em que a profissão se encontra no Brasil. Sem os devidos recursos para executar um bom trabalho e convivendo diariamente com um estado quase de guerra civil, não é sem explicação que tantos policiais militares fiquem doentes. Uma pena. É uma profissão essencial para a sociedade, que deveria ser mais valorizada e respeitada.

Alexandre Henry

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