
A praça
Durante muitos anos, eu olhei pela janela do meu apartamento e só vi terra e mato ali naquela pequena pracinha encravada no meio de uma espécie de rotatória do bairro Jardim Finotti. E foi isso que a Praça Alcides Borges de Oliveira representou por muito tempo: um espaço abandonado, sem infraestrutura alguma. Ao seu lado, os prédios iam se erguendo mais e mais.
No ano passado, essa história começou a mudar. Primeiro, a pequenina praça redonda, de menos de 100 metros de diâmetro, recebeu um passeio em suas bordas e outro em forma de "x", cruzando-a ao meio. Só isso já foi suficiente para que as pessoas começassem a usar aquele espaço. Certo dia, conversei sobre a pracinha com o meu amigo Eduardo Afonso, Secretário de Serviços Urbanos da Prefeitura de Uberlândia, e ele me disse que as obras ali seriam continuadas. E foi o que aconteceu. O local ganhou vários bancos, foi feita uma jardinagem, colocados alguns aparelhos para ginástica e uma placa com um poema. De espaço morto no meio da cidade, a praça virou um impressionante ponto de encontro todo final de tarde, com inúmeros pais e crianças aproveitando aquele oásis pequenino no meio do concreto dos prédios. Ali, não há árvores grandes para boas sombras, não há espaço para uma partida de futebol e não há lagos ou qualquer tipo de água. É tão somente um local ao ar livre com alguns bancos, um gramado onde as crianças podem correr um pouco e alguns equipamentos simples para esportes. Mesmo assim, a sensação que tenho, quando vou ali no final da tarde com a minha filha, é que a pracinha melhorou a vida de muita gente ao seu redor, pois permitiu um final de tarde um pouco mais agradável, fora da clausura dos apartamentos. Crianças levam seus brinquedos, mães e pais trocam dedos de prosa, cães correm para lá e para cá alegres e faceiros. Tudo isso, como eu disse, em menos de 100 metros de diâmetro.
As cidades estão crescendo e a vida tende a ficar mais abafada, mais fechada e claustrofóbica. As cidades precisam desesperadamente se tornar lugares mais acolhedores, um acolhimento diferente daquele proporcionado pelo ar condicionado dos shoppings. As pessoas querem se encontrar e sentir um pouco de brisa no rosto, querem levar o filho ou o cachorro para passear, querem se sentar embaixo de uma árvore, andar de bicicleta, ver a natureza. O mínimo de infraestrutura nesse sentido, como aconteceu com a pracinha do meu bairro, já provoca uma revolução ao seu redor. Pela Europa, percebe-se claramente uma preocupação com a integração da população com a cidade. Por aqui, parece que, finalmente, essa realidade começou a dar as caras. Ainda falta muito, mas estamos no caminho certo.
Alexandre Henry