
A balança dos relacionamentos
Se você decidiu ficar solteiro/a até que apareça alguém com quem você possa ter um relacionamento totalmente equilibrado, paritário, no qual nenhum ceda mais do que o outro, sinto te informar que você vai continuar com esse estado civil durante muito tempo, talvez até morrer. Ou, se decidir mudar o estado civil na certeza de que encontrou o par idealizado, prepare-se para descobrir que você sonhou com algo inexistente.
Falo isso a partir do que meus sentidos captam. Meu trabalho envolve analisar o mundo e as pessoas à minha volta, seja para redigir uma sentença ou para escrever uma crônica. Observar o mundo à minha volta não me torna mais sábio ou inteligente, mas contribui para que eu acumule convicções acerca de um monte de coisa importante e de um monte de bobagem também. Uma delas é essa balança do relacionamento, que sempre me pareceu pender para um dos lados em qualquer casal que eu observei até hoje. Sempre, mas sempre mesmo, um dos dois cede com muito mais frequência que o outro. Há os que cedem a partir de chantagens emocionais (caso mais comum), assim como há os que cedem porque, entre ter razão e viver um relacionamento pacífico, preferem a segunda opção. E tem gente que cede porque é do seu próprio perfil. É claro que, vez ou outra, conforme o tema, os papeis se invertem. Mas, só em pontos muito específicos. No geral, colocando na balança as concessões de cada um, você vai observar que sempre um prato está mais pesado do que o outro.
Por anos, eu achei que isso fosse um comportamento doentio ou que quem sempre cede assim o faz por amar mais ou demais. Com o tempo, porém, fui relativizando essa minha convicção e passei a acreditar que a tal balança dos relacionamentos atinge a sua perfeição justamente quando os pratos não estão alinhados. Os relacionamentos mais longos que acompanho sempre são assim: um cedendo mais do que o outro e, no final das contas, os dois felizes. Também notei que aquele que mais faz concessões não é necessariamente quem mais ama na relação e muito menos quem mais sofre, especialmente nos relacionamentos em que vejo lealdade, cumplicidade e respeito. O durão da relação pode assim agir tão somente como uma forma de não confessar sua dependência e fraqueza diante do outro, uma forma de não transparecer que, sem aquele ser humano que tanto cede na relação, o dono da casca grossa não saberia como continuar vivendo.
É isso. Posso estar errado em minha visão, mas até que alguém me convença do contrário, vou continuar acreditando que os relacionamentos são assim mesmo: harmônicos em um desequilíbrio apenas de aparência.
Alexandre Henry